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🇬🇧 How to contribute to the realization of artistic projects

How can you contribute to the viability of my artistic projects? I am Nycka Nunes, a visual artist and photographer. Photographic equipment...

🇧🇷🇵🇹 Sobre coisas cruéis que já ouvi

Eu cresci morando com minha avó materna. Por parte da minha família de mãe eu nunca fui elogiada, e mesmo as conquistas que deviam ser vistas como positivas eram ignoradas. “Não fez mais que a obrigação”, diziam. E ouvia quase todo dia que eu era feia, burra e inútil. Pra ficar mais legal, a única celebridade que tinha traços parecidos comigo naquele remoto passado era a atriz brasileira Cristina Pereira, e eu não via nada de bonito nela. Possivelmente porque não via nada de bonito em mim de tanto ouvir que era feia. Olhando hoje eu poderia achar a atriz Mayara Magri parecida comigo na época. Ela era bonita. Mas eu não me achava bonita, então não via esta semelhança.

É difícil destacar uma única coisa cruel em meio ao meu passado. Acho que bombardear uma criança criativa e cheia de iniciativa com críticas é muito cruel, mas é uma atitude de pessoas fracas, que vêem meninas como bonecas. De fato, me vestiam como se eu fosse uma boneca. Até hoje tenho horror a roupas cheias de babados e fitas por isso. Prefiro uma imagem tomboy que uma de bonequinha. Meu estilo flerta mais com a androginia que com a imagem de mocinha romântica. Mesmo quando uso vestidos fluidos e delicados, quebro o romantismo com botas pesadas ou outros recursos de estilo. Eu não me identifico 100% com estereótipos femininos. E sinto-me perfeitamente bem num corpo feminino.

O tratamento aos meninos era diferente. Eu brincava com eles e percebia os privilégios. Nenhum dos meus irmãos ou meu primo trabalharam na infância. Eu sim. E isso é a menor das diferenças. Eles me respeitavam enquanto quem costumava me desrespeitar eram figuras femininas. Assim, tenho mais facilidade de cultivar amizades masculinas. Mulheres que abraçam o papel de bonequinhas frágeis e choronas me irritam. Depois do longo e doloroso processo de cura que passei, fiquei muito intolerante com adultos floquinhos de neve, que se ofendem por qualquer coisa, independentemente do gênero. Porque são eles que causam danos imensos na mente das crianças. E deveríamos mesmo cuidar do bem-estar das crianças, que não sabem se defender da crueldade que pode existir na própria família. Não cuidar de adultos que já deveriam ter discernimento para cuidar da própria saúde mental.

Uma vez, nos tempos que a Fátima Bernardes era âncora do JN ela estava com um corte muito bonito de cabelos curtos (possivelmente lisos como os meus). E eu comentei que gostaria de ter cabelos assim. Eu detestava meus cabelos longos que eram impossíveis de prender porque nada os segurava. Eu gastava 1h no banho para lavá-los e desembaraçá-los. E nem eram compridos como muitas usam hoje. Geralmente não iam além de 15 ou 20cm abaixo dos ombros. E quando fiz aquele comentário, minha tia mais nova que estava sentada perto disse a seguinte gentileza: “a única coisa bonita que você tem é o cabelo. Se cortar vai sobrar o quê?”. 😁 Fofo. Amoroso. Só que não.

Mas burra eu sabia que não era. Não vejo como alguém que tire boas notas sem colar (e frequentemente sem estudar) possa ser burro. E acabei mudando minha autoimagem, que foi negativa por muito tempo por essa forte influência negativa familiar, por perceber esta brecha, este dedinho de mentira que fez a mentirada toda desmoronar. E ainda assim eles continuaram com a mentirada.

Uso cabelos curtos há mais de vinte anos. Usei cortes lindos e algumas vezes os cabeleireiros não foram capazes de fazer um bom trabalho. Experimentei inúmeras cores. Enquanto o senso comum diz que cabelo é moldura do rosto, fiz do meu cabelo minha tela para criar arte, assim como faço com meu guarda-roupa desde os 18 anos.

Nada dito a um adulto por terceiros é mais cruel que uma chuva de críticas e zero elogios a uma criança vindos da própria família. Mas mesmo isso pode ser superado. Por isso, hoje quando vejo gente dizendo que não podemos falar isso e aquilo pra adultos porque é ofensivo, quando o termo isoladamente não é ofensivo, eu apenas vejo uma pessoa com quem não tenho interesse em conviver, porque não vejo ninguém se levantando contra pais e familiares que fazem bullying contra os próprios filhos ou que os educam com base em ameaças e castigos. No Brasil, até canções de ninar têm um teor que incita o medo. É ridículo.

Aprendi muito ao longo da vida. Posso contribuir profissionalmente com as pessoas que querem deixar o vitimismo no passado. Não é sempre que tenho tempo ou interesse em ajudar os outros a vencer barreiras que venci sozinha, mas eventualmente acontece. Acompanhe os serviços disponíveis na página de serviços e siga meus perfis nas redes sociais se minha trajetória te inspira. Recomendo que comece contratando uma sessão de fotos, que está sempre disponível.


Nycka Nunes

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